Mas o carma que afligiu todas as lendárias marcas inglesas não poupou a Jaguar, que esteve nas mãos da Ford de 1989 até 2008, quando foi comprada pela indiana Tata, juntamente com a Land Rover.

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Tantos foram os altos e baixos da Jaguar que ela já pertenceu à Ford e teve um modelo baseado num chassis do Ford Mondeo (o X-Type produzido entre 2001 e 2009 nas versões sedã e perua), e seus próximos (todos eletrificados) serão baseados em plataformas chinesas.

“Principe da Escuridão”

A marca sempre tentou competir em vários segmentos. Na década ada, com sedãs, esportivos e SUVs. Mas ela sempre teve também dificuldade em superar a imagem de pouca confiabilidade e mecânica complexa, além das tradicionais panes elétricas provocadas pelo seu antigo (e duvidoso) fornecedor de componentes, a também inglesa Lucas -- conhecida jocosamente como “Prince of Darkness” (Príncipe da Escuridão).

A fábrica trocou-a pela Bosch, mas a imagem ficou, com problemas mais recentes em motores, bombas d’água e turbinas.

O desgaste da marca chegou ao ponto de seu então CEO, Tierry Bolloré, numa assembleia com acionistas em 2021, afirmar que a JLR (Jaguar Land Rover) tinha perdido cerca de 100 mil vendas globais em 2020 devido a problemas de qualidade. As vendas despencaram de 530 mil unidades, em 2019, para 425 mil, em 2020.

A respeitada empresa norte-americana de pesquisa JD Power classifica todas as marcas vendidas nos Estados Unidos de acordo com a qualidade, aferida pelo número de problemas registrados depois de um e três anos de uso. As duas inglesas, Jaguar e Land Rover, sempre estiveram no “podium às avessas”, entre as cinco piores durante anos consecutivos.

Jaguar saltou da Ford para a Chery

O atual CEO (Bolloré demitiu-se meses depois da desastrada declaração), Adrian Mardell, disse neste ano estar eliminando cinco modelos da JLR, pois nenhum deles é rentável. E que serão substituídos por novos projetos, todos elétricos e a serem lançados a partir de 2025.

É fácil supor que serão híbridos e elétricos, além de ter arquitetura projetada pela chinesa Chery, pois já existe uma parceria de anos entre as duas empresas.

Um diretor da JLR declarou recentemente que a ideia da empresa é lançar seis modelos elétricos ou PHEV (híbridos plug-in), compartilhados com o Exeed (modelo de luxo da Chery), renovando toda sua linha, inclusive os atuais elétricos.

Isso confirma as informações de que a Jaguar pretende subir a régua e competir diretamente com marcas como Bentley, Rolls-Royce, Mercedes, BMW e Porsche.

Fábrica no Rio tem futuro incerto

Considerando-se os problemas de imagem dessas marcas inglesas, é pouco provável que um Jaguar tenha condições de competir com modelos de altíssimo padrão como Bentley, Porsche e outras deste calibre.

No mercado brasileiro, ambas são vistas com certa desconfiança, principalmente pelos graves problemas no pós-venda. Na linha Range Rover, motores turbinados foram pesadelo de centenas de seus donos. O incrível custo para se trocar uma correia dentada, que obrigava a oficina a deslocar a carroceria do chassis, devido à complexa engenharia inglesa, afastou muitos potenciais clientes da marca.

Outra questão é a fábrica que a JLR mantém no interior do estado do Rio, em Itatiaia, onde são montados alguns de seus modelos. A ociosidade levou a empresa a sublocar alguns de seus espaços e até a instalar uma oficina para restauração de carros antigos das marcas.

A empresa mantém a fábrica, forçada por um contrato com o governo do Rio de Janeiro, mas a completa mudança nas arquiteturas de Jaguar e Range Rover torna seu futuro ainda mais incerto.

Jornalistas da badalada revista norte-americana “Car and Driver”, num teste de longa duração de um Jaguar dos anos 90, adoraram o carro, mas tiveram que levá-lo à oficina algumas vezes. E resumiram o teste dizendo “é o melhor carro do mundo... quando anda”.

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Boris Feldman